A importância do brincar

Por Alline Nogueira Melo

O brincar é a linguagem da infância. O adulto se expressa através da palavra, enquanto que a criança através do brincar. Bonecas, carros, potes, canetas, bolas, tecidos, galhos, etc., no mundo da criança qualquer objeto pode se tornar lúdico, ou seja, um brinquedo, e ser algo que proporcione diversão com as mais ricas experiências.

Quando brincamos nos expressamos, nos desenvolvemos, interagimos e aprendemos limites.

O brincar permite que a criança descubra suas potencialidades e dificuldades. Ela encontra a possibilidade de expressar seus pensamentos de forma livre, se desenvolve intelectual e emocionalmente. O contrário também é verdadeiro, a criança que não recebe a oportunidade de brincar encontrará mais dificuldades no seu desenvolvimento.

A experiência de brincar permite a interação com outras pessoas, a criança consegue criar vínculos de confiança que favorecem seu desenvolvimento. Compartilhando brincadeiras com outras crianças ela é conduzida aos relacionamentos grupais. Ela se socializa reconhecendo seu papel e o papel do outro na sociedade, também entende em qual ambiente está inserida.

Nos jogos e atividades com regras ela alcança um domínio de si, aprendendo a lidar com limites e as necessidades do outro, percebe que precisa esperar e respeitar esse outro. Quando age diferente disso, o jogo por si mesmo não pode acontecer. De forma positiva a criança aprende a lidar com limites, aqueles mesmos que os pais tanto se empenham em ensiná-la.

O cérebro gosta de brincar

As atividades lúdicas oferecem para a criança os estímulos positivos necessários para aprimorar as conexões que são realizadas pelo seu cérebro.

Quando a criança brinca estimulando seus recursos sensoriais, ela tem a possibilidade de utilizar efetivamente suas sinapses e aprimorar sua neuroplasticidade.

Faz de conta, esconde-esconde, dançar, pular

Quando a criança brinca de faz de conta através de personagens, com amigos imaginários, quando ela é o lobo ou o caçador, a criança descobre formas diferentes de reagir e se comportar em diversas situações da realidade. Ela pode se perceber em uma situação do mundo real que ainda não sabe lidar e, inconscientemente, irá representar essa situação através das brincadeiras para poder experimentar a chance de encontrar soluções para lidar com esse problema.

Como se ela fosse um pequeno cientista e tivesse nesse mundo imaginário a oportunidade de fazer experimentos para um dia aplicá-los no mundo real.

Quando vemos o pequeno bebê começando a interagir através da brincadeira de esconder e aparecer com um adulto, estamos vendo um bebê brincando e se divertindo e, ao mesmo tempo, elaborando a situação em que alguém em certos momentos está presente e em outros não está, como quando ele acorda e se vê sozinho com ninguém ao seu redor, mas aos poucos percebe que se chorar alguém irá aparecer. No brincar de esconder a criança reproduz uma situação do mundo real (Aberastury, 1984).

Através desse faz de conta ela intui, sente e elabora que as pessoas ou os objetos tanto podem aparecer como desaparecer e ainda assim continuam a existir.

Em relação ao desenvolvimento físico, através das atividades lúdicas a criança adquire coordenação e controle de seus movimentos, desenvolve uma adequada consciência corporal, encontrando as possibilidades e limitações de seu corpo, criando também consciência de seu sistema sensorial e espacial. O brincar é também um facilitador do crescimento e da saúde.

Brincar é ciência

Winnicott foi um dos autores que estudou sobre a função do brincar, para ele o brincar é sinônimo de saúde. Observando suas ideias, entendemos que quando a criança está em uma situação de sofrimento emocional ela não se sente confortável e disponível para se permitir participar ou criar uma brincadeira, ela não brinca. Podemos pensar que a criança que brinca está mostrando o quanto saudável ela se sente.

Aberastury também apresenta estudos sobre o desenvolvimento das crianças, e acrescenta que quanto menos os adultos interferem nas brincadeiras da criança, melhor elas conseguem criar e elaborar suas atividades lúdicas. Como se nesse momento a criança precisasse do adulto atuando no papel de manter o ambiente seguro e permanecer presente para caso ela o solicite. O escritor, diretor e personagem principal da brincadeira é a criança.

A oportunidade de brincar é algo essencial ao ser humano.

Os adultos também brincam. Assim como o brincar é essencial para as crianças, ele também é para os adultos. Quando os adultos se veem em alguma situação emocional desconfortável, a tendência é buscarem algo para sentirem prazer e conforto. O brincar é uma das ferramentas utilizadas para isso, vemos os adultos organizando festas e reuniões de amigos, participando de esportes coletivos, jogos de tabuleiro, vídeo games, aulas de dança, aulas de desenho, costura, karaokê, culinária, e tantas outras atividades. Podemos entender todos esses momentos como atividades lúdicas saudáveis que eles buscam para enriquecer seu desenvolvimento emocional.

Fontes de pesquisa e imagens
  • Photo 1 by Lukas from Pexels
  • Photo 2 by Lukas from Pexels
  • Photo 3 by Kaboompics.com from Pexels
  • Photo 4 by Cottombro from Pexels
  • Aberastury, A. (1984). Psicanálise da criança. Porto Alegre: Artes Médicas.
  • Berger, K. S. (2003). O desenvolvimento da pessoa: do nascimento a terceira idade. LTC.
  • Kail, R. V. (2004). A criança. São Paulo: Prentice Hall.
  • Winnicott, D. W. (1975). O brincar e a realidade. Ubu Editora.
Alline é graduada em Psicologia, especialista em Psicologia Clínica Hospitalar e há quase dez anos pratica a psicologia com crianças, adolescentes e adultos através da abordagem psicodinâmica.