Por Alline Nogueira Melo
Definitivamente é um drama. De repente aquele bebê encantador se transforma em alguém que grita, se joga no chão e chora sem controle. Alguém cheio de vontades, que tem crises de choro quando não consegue pegar um brinquedo e que joga o sapato longe quando não entendemos o que ele quer. Ao mesmo tempo, é alguém que faz lindas demonstrações de amor, nos abraça com carinho e aprende novas habilidades com incrível facilidade. Afinal, quem é esse ser humaninho?
Raiva, tristeza, medo, felicidade, nojo…
O desenvolvimento emocional se refere a forma como aprendemos a organizar e regular a nossa reação diante de certas situações, ou seja, nossa habilidade de expressar as emoções. Começamos esse processo quando somos bebês e gradualmente o aprimoramos ao longo da vida.
No início do desenvolvimento os bebês expressam apenas sensações simples como serem atraídos por situações prazerosas e a tentativa de evitar estímulos desagradáveis, prazer versus desprazer (J. Huijding).
Através das expressões faciais do bebê observamos seu estado emocional.
Vemos o choro diante de situações estranhas e que o incomodam, e os sorrisos e as risadas quando estão alegres e satisfeitos.
Com o decorrer do desenvolvimento enfrentam as emoções básicas que nós reconhecemos como a raiva, tristeza, medo, felicidade e o nojo. Por volta dos dois anos, as crianças se deparam com emoções mais complexas como sentimento de culpa, vergonha e orgulho. Nesse momento elas começam a construir a compreensão de si mesma como um ser completo e separado do outro, por causa disso têm a possibilidade de observar e interpretar as reações dos outros ao seu redor, também as consequências de suas reações nesse outro (Kail, 2004).
Várias coisas acontecem ao mesmo tempo no desenvolvimento infantil
O nosso desenvolvimento emocional está relacionado com o desenvolvimento intelectual, motor, cognitivo, social e linguagem, onde todos se influenciam simultaneamente. Quando adquirimos uma nova habilidade, algumas emoções podem ser ativadas como consequência disso.
Por exemplo, a criança acabou de descobrir que consegue segurar o lápis de cor e agora terá a oportunidade de desenhar seu personagem favorito (sabe, aquele que ela acabou de aprender a cantar a música inteira do filme?). Ela sente orgulho desse objetivo alcançado, mas logo esse orgulho começa a sumir quando ela percebe que seu desenho não está acontecendo como ela imaginava, começa a sentir algo que não sabe o que é, só sabe que sente vontade de rasgar o papel e jogar o lápis longe, então ela faz isso…
Nesse momento ela está sentindo raiva e uma raiva dupla, raiva dessa sua incapacidade de desenhar e raiva por ter destruído essa tentativa de desenho, como se ela nunca mais fosse ter a oportunidade de fazer esse desenho novamente.
E é nesse momento intenso que começa o drama. Ela se joga no chão, começa a gritar e chorar até que algum adulto ao seu redor perceba a situação e venha ajudá-la a entender o que ela está sentindo, que emoção tão forte é essa…
A criança se depara com as emoções e começa a buscar formas para lidar com elas
Nessa fase o convívio social das crianças é ampliado, começam a se tornar conscientes de que as pessoas e o ambiente social ao redor possuem exigências e limites, e elas precisarão corresponder a esses controles impostos pelos outros. Elas percebem que há a necessidade de desenvolver o autocontrole emocional (Kail, 2004).
A criança nessa fase está desenvolvendo e ampliando seu sistema de comunicação verbal e essa é a ferramenta que podemos usar para ajudá-la: linguagem e comunicação.
A criança estará cada vez melhor preparada para conversar de forma breve e ouvir em palavras os nomes das emoções que está demonstrando. Assim, com o tempo, a frequência de suas expressões descontroladas de raiva começará a diminuir, pois ela conseguirá falar mais claramente sobre o que sente, como uma forma mais saudável e eficiente para expressar suas emoções do que perder o controle.
Também, suas habilidades cognitivas e motoras estão sendo aprimoradas, então ela poderá direcionar e controlar melhor suas ações motoras, conseguirá diminuir as distrações e começará a se mostrar mais persistente para obter seus objetivos.
O bebê está crescendo!
Com isso, vemos que as crianças aos dois anos de idade, estão em uma fase que já não são apenas um bebê dependente, mas também ainda não são uma criança em idade escolar com toda sua independência. Estamos diante de alguém que aprendeu e desenvolveu novas habilidades incríveis e, por enquanto, quando sentir raiva vai chorar e gritar desproporcionalmente por estar aprendendo a reconhecer, nomear e lidar com suas emoções.
Os pais e nós adultos que fazemos parte do convívio social da criança, temos papel fundamental para ela nesse momento e podemos facilitar esse aprendizado sobre como expressar e regular suas emoções.
Fontes de pesquisa e imagens
- Photo 1 by Roman Odintsov from Pexels
- Photo 2 by Roman Odintsov from Pexels
- Photo 3 by Freestockorg from Pexels
- Huijding, Dr. Jorg. Understanding child development: from synapse to society, by Utrecht University, Coursera.org.
- Kail, R. V. (2004). A criança. São Paulo: Prentice Hall.