Por Alline Nogueira Melo
Os pais e os cuidadores da criança são os mediadores da criança em todo seu desenvolvimento. Eles ensinam a criança a comer sozinha, a andar, a falar e tudo o que está incluso nesse mundo da criança. Dessa forma, eles também serão os mediadores no desenvolvimento emocional dela. Ajudando-a a compreender, nomear, expressar e regular as emoções que sente.
A criança espera suporte dos pais e cuidadores
Em algumas situações, as crises de choro e gritos têm uma função interessante, a de testar se os adultos ao redor da criança são capazes de suportar as emoções que ela está enfrentando. Lembrando de forma simples as ideias de Winnicott, nessa situação o adulto precisaria sobreviver ao estado emocional da criança. Sobreviver no sentido de mostrar-se calmo durante a crise dela e continuar disponível para ela solicitar, possibilitando que a criança enxergue uma esperança para o sofrimento dela.
Nesse momento a criança pensaria: “Como esse adulto está conseguindo ficar tão calmo com todo esse sofrimento que estou passando? Bem, se ele consegue, eu também consigo.”
Lembrando que ficar calmo não é ser indiferente.
As crianças utilizam os adultos ao seu redor como referência social, esse termo se refere à quando a criança está em uma situação desconhecida e busca no comportamento e expressões dos pais e cuidadores alguns indícios de como interpretar o que está acontecendo com ela.
As crianças confiam nas emoções dos pais para ajudá-los a regular seu próprio comportamento.
Quando a criança tem um brinquedo novo e os pais demonstram o quanto o acham interessante, ela tem a tendência de se interessar mais por esse brinquedo do que por outro. Assim como quando ela vê um cachorro desconhecido se aproximando dela, primeiro observa a reação do adulto por perto e com isso determina sua própria reação, se irá se afastar do cachorro por medo ou se começa a brincar com ele.
Em outras palavras: a criança copia o comportamento do adulto.
Como no exemplo do artigo anterior, a criança chora e grita para comunicar que está sentindo algo que não compreende: a raiva por perceber-se incapaz de desenhar seu personagem favorito. Afinal, ela já consegue andar, correr, pular, cantar, mas não consegue desenhar como gostaria, isso é algo inaceitável para ela. Nós conseguimos entender o que está acontecendo com ela, mas ela ainda não sabe o que é essa emoção e muito menos como lidar com ela.
A cultura no desenvolvimento infantil
As emoções e as formas de expressá-las podem ser similares para todas as crianças da mesma idade, mas apresentam características individuais em como são vividas. Quando falamos sobre o desenvolvimento infantil existem muitos fatores relacionados entre si.
Os pais e o ambiente social ao redor da criança apresentam as referências culturais e os aspectos do mundo para ela.
Lembrando do ambiente cultural em que nós brasileiros na Holanda vivemos, além das referências que elas recebem do lugar onde moram, os pais acrescentam referências culturais de seu próprio país de origem para a criança, que contribuem de forma importante para seu desenvolvimento. Assim, ainda que alguns aspectos sejam comuns para todas as crianças, é importante lembrar que cada uma sempre terá uma dinâmica particular e não existe uma regra única e pré-estabelecida para todas.
O que os pais e cuidadores podem fazer?
NO MOMENTO DA CRISE
Nomear emoções: Expressar em palavras a emoção que a criança está sentindo, valorizando e demonstrando que essa emoção é algo real e importante. Ela sentirá que é ouvida e vista pelo outro trazendo-lhe segurança, ela sentirá que existe e isso acalma. Um exemplo para ilustrar: “Você está assim porque perdeu seu brinquedo e isso te faz sentir vontade de chorar e gritar muito, isso que está sentindo se chama raiva. Essa raiva vai acabar, ela não dura pra sempre. Enquanto isso podemos dar uma volta na rua para respirar ar puro. Sabe, toda as vezes em que eu sinto o mesmo que você eu faço isso”. (É importante lembrar que cada um tem suas próprias referências e técnicas para aliviar a raiva).
Ser um exemplo: Quando a criança sente a emoção intensa, ela tem a crise para comunicar essa emoção ao outro. Geralmente estamos tão cansados que entramos na emoção da criança e com isso começamos a sentir o mesmo descontrole que ela. Entramos em uma posição de disputa com a criança e nessa situação sempre iremos perder. Quando conseguimos nos posicionar como fora da situação, não entrando na emoção da criança, conseguimos nos manter calmos e encontrar uma solução mais apropriada para ela naquele momento, assim ela consegue nos usar como modelo e copiar nosso comportamento.
ANTES E DEPOIS DA CRISE
Dar o poder de escolha: Dentro de um mundo em que ela precisa seguir tantos limites e controles, sempre existirá alguma pequena situação em que ela terá a oportunidade de fazer uma escolha por si mesma e isso satisfaz de forma saudável seu desejo de ter o domínio da situação. Podemos apresentar pequenas situações variadas na rotina diária em que ela possa fazer escolhas de forma independente, por exemplo escolher o pijama ou a roupa do dia.
Mostrar que adultos também choram: No dia a dia, podemos falar brevemente e em uma linguagem própria para a idade da criança, sobre situações em que sentimos as mesmas emoções que ela e o quanto isso também é difícil para nós. Ela perceberá que se um adulto que ela tanto admira consegue passar por isso sem precisar das crises de choro desproporcionais, ela também poderá conseguir.
Que atire a primeira pedra quem nunca teve 2 anos de idade.
Todos nós passamos por essa fase dos dois anos. Quando experienciamos tantas emoções diferentes e aprendemos a lidar com elas.
E quando adultos percebemos que estamos vivendo sensações como ansiedade, tristeza, raiva e irritabilidade, de forma persistente e recorrente, podemos supor que isso está relacionado ao nosso desenvolvimento emocional, que pode ter sido construído de forma frágil. Assim como, o resultado do nosso desenvolvimento emocional construído de forma saudável, nos possibilita a formar relações íntimas saudáveis e evitar o isolamento social.
E sempre há esperança, pois o desenvolvimento emocional começa na infância e se prolonga por toda a vida, então sempre teremos a chance de cuidar e aprimorar nossas formas de lidar com as emoções.
Fontes de pesquisa e imagens
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- Photo 2 by Ketut Subiyanto from Pexels
- Photo 3 by Ann H from Pexels
- Berger, K. S. (2003). O desenvolvimento da pessoa: do nascimento a terceira idade. LTC.
- Huijding, Dr. Jorg. Understanding child development: from synapse to society, by Utrecht University, Coursera.org.
- Kail, R. V. (2004). A criança. São Paulo: Prentice Hall.