O adolescente e sua busca pela identidade

Por Alline Nogueira Melo

Os adolescentes são inovadores, idealistas e desafiadores, como nenhum outro adulto seria. Durante a adolescência vemos o grande aprimoramento do desenvolvimento humano. E nesse momento podemos perguntar a eles o que eles querem ser, e eles podem ser o que quiserem.

O desenvolvimento psicossocial

Segundo Erik Erikson, em cada fase de nosso desenvolvimento enfrentamos uma crise, para os adolescentes ele nomeia essa crise como a construção da identidade versus a confusão de papéis. Nesse momento o adolescente busca equilibrar o desejo de experimentar todos os “jeitos de ser” disponíveis ao seu redor e a necessidade de escolher um único deles para seguir. É o momento de avaliar quem ele quer e pode ser.

Os adolescentes precisam explorar! Isso requer tempo, espaço e liberdade relativa.

A criança começa a entrar na adolescência vivendo a descoberta de seus próprios interesses, que podem ser diferentes dos interesses dos adultos ao seu redor. Ela descobre sua capacidade e começa a mostrá-la para o mundo através das conquistas que realiza no ambiente escolar e social.

Nesse momento, ela busca o reconhecimento e incentivo dos pais e professores ao redor. Nós adultos podemos oferecer a ela o reconhecimento positivo de suas tentativas, encorajá-la a explorar e desbravar o mundo ao redor. Com isso, ela tende a se sentir cada vez mais capaz e produtiva. Quando acontece o contrário, quando é apenas desencorajada e depreciada, a criança desenvolverá a sensação de ser incapaz e inferior em relação aos outros.

Seguindo no desenvolvimento, por volta dos 12 anos, o adolescente percebe que cumpre diferentes papéis sociais, ele é criança, jovem, estudante, filho, aluno, amigo, entre outros.

E isso dá início à necessária crise de identidade que todos experienciamos na adolescência.

Nesse momento da vida, o adolescente busca oportunidades para viver situações diferentes, encontrar o máximo possível de referências sociais, exemplos de que tipo de pessoa ele poderá se tornar. Conhecer ideias e entender os diferentes porquês no mundo. Quando ele é permitido a explorar e conhecer o mundo, ele tem a chance de encontrar quais aspectos combinam com ele e quais deve descartar, assim começa a formar sua identidade.

De que identidade estamos falando?

Em palavras simples, podemos entender a identidade como refere Berger (2003), sendo a necessidade de estabelecer nossa personalidade de forma integral, ou seja, alinhar nossas emoções, pensamentos e comportamentos para que se mantenham em consistência em qualquer situação, independente do lugar, do momento, das circunstâncias e do relacionamento social que vivemos. Construir a identidade seria o mesmo que construir uma resposta para pergunta: Quem sou eu?

Quando o adolescente é permitido pelo ambiente social (pais, professores e adultos ao redor) a explorar o mundo, ele tem a chance de encontrar suas referências e formar essa identidade.

Permitir essa exploração fica mais confortável para os pais quando eles a acompanham de perto, sabendo o que o adolescente mais gosta de fazer, quem são seus amigos e os ambientes que ele se sente bem.

Totalmente diferente de vigilantes, nesse momento os pais e adultos participam como incentivadores.

Em contrapartida, os adultos ao redor do adolescente muitas vezes impõem barreiras rígidas e impedem a chance de conhecer novas referências. Por um lado, isso traz aos pais a falsa sensação de que o adolescente está sob controle e nada de ruim irá acontecer a ele. Por outro lado, o adolescente passa a se sentir limitado somente ao que lhe é imposto e recebe uma identidade pronta ou nenhuma. Isso o aprisiona em uma confusão de papéis, onde não sabe quem ele realmente é. Assim, permanece em uma sensação de estar perdido pela vida, pois não existiu a experiência de descoberta, mas algo foi rigidamente aderido à sua identidade.

Os adolescentes têm um mundo inteiro a ser descoberto pela frente.

Geralmente, lemos que a adolescência termina por volta dos vinte e poucos anos, porém no que se trata do desenvolvimento humano, nada é definitivo. No decorrer da vida a adolescência ainda virá nos visitar e nossa identidade poderá ser retrabalhada em diferentes aspectos e áreas, devido aos novos desafios e circunstâncias que a vida nos impõe.

Fontes de pesquisa e imagens
  • Photo 1 by Roman Odintsov from Pexels
  • Photo 2 by Markus Winkler from Pexels
  • Photo 3 by Tembela Bohle from Pexels
  • Berger, K. S. (2003). O desenvolvimento da pessoa: do nascimento a terceira idade. LTC.
  • Kail, R. V. (2004). A criança. São Paulo: Prentice Hall.
Alline é graduada em Psicologia, especialista em Psicologia Clínica Hospitalar e há quase dez anos pratica a psicologia com crianças, adolescentes e adultos através da abordagem psicodinâmica.