Os recém-nascidos pais do bebê

Por Alline Nogueira Melo

Os pais que vivem a experiência de ter seu primeiro filho, deparam-se com inúmeras questões e novas experiências. Para os brasileiros na Holanda, esse momento de vida, além de tudo, ainda traz experiências diferentes das presenciadas no Brasil, vários aspectos práticos e emocionais deverão ser considerados. Vale a pena refletir um pouco mais sobre essas mudanças emocionais e psicológicas que os recém-nascidos pais costumam enfrentar.

Tornar-se pai e mãe é algo construído através da relação deles com o filho.

A parentalidade consiste em um processo, uma relação de interdependência entre os pais e seus filhos. Começa na concepção e continua até a idade adulta do filho.

Ter um filho, criá-lo e finalmente lançá-lo no mundo adulto, é um processo com grande impacto no desenvolvimento emocional de cada cuidador.

Durante o desenvolvimento do filho, os pais são testados e transformados. E justamente quando imaginam que já conhecem a criança e dominaram a arte da criação, o avanço positivo dos filhos para o estágio seguinte de desenvolvimento traz novos desafios (Berger, 2003).

Antes dois, agora três… A família que antes era composta apenas por uma ou duas pessoas, se amplia com a chegada do novo membro. O ambiente da casa é transformado, as prioridades são revistas, a rotina é adaptada.

E a parentalidade implica níveis conscientes e inconscientes de funcionamento mental. Além dos aspectos práticos, os pais necessitam fazer renúncias de papéis sociais, ampliando sua própria condição anterior de filho ou filha, e de parceiros, para agora também a de pai e mãe.

Nesse momento assumem um novo papel social por causa da relação com seu filho. O subsistema conjugal será ampliado para o parental. E assumir um novo papel social não é um processo simples, requer tempo para haver a adequação emocional e psicológica (Jager e Bottoli, 2011).

Os pais precisam estabelecer novos papéis e relações para que possam agregar um novo membro no grupo familiar, o que traz consequências para ambos (Jager e Bottoli, 2011).

As expectativas da sociedade

A sociedade ainda apresenta a ideia de que a mulher é quem possui uma maior facilidade no cuidado com os filhos, como se houvesse uma espécie de habilidade natural feminina. No entanto, isso é apenas uma crença cultural, não condiz com a realidade. Para ambos os pais, a parentalidade será um aspecto a ser desenvolvido e cada um encontrará seu papel nessa relação (Bornholdt, Wagner e Staudt, 2007).

É através da relação com o filho que poderão experimentar quem cumpre o papel da função paterna e da função materna, esses papéis serão construídos através da relação. Essas funções vão além de simplesmente ter os filhos e ser denominado como pai ou mãe, envolvem relacionamento emocional.

Avós, pais e filhos

Quando os parceiros se encontram, não existem apenas duas pessoas soltas no mundo, cada uma delas é o resultado de uma história única e subjetiva, através da relação com suas famílias de origem (Duarte e Zordam, 2016).

A relação dos pais com o bebê será influenciada pela relação com seus próprios pais.

A percepção de ser pai e mãe é enraizada na representação subjetiva que a pessoa tem de si e de suas experiências anteriores na relação com seus próprios pais. Essa representação é individual e, geralmente, poderá ser seguida fielmente, caso tenha sido positiva, ou será revisada e adaptada, caso tenha sido negativa. Os pais mostram essas expectativas com expressões como “Quero ser tão bom para meu filho, quanto meus pais foram para mim” ou “Quero dar aos meus filhos tudo o que não tive” (Jager e Bottoli, 2011).

Por exemplo, pessoas que viveram a adolescência de forma negativa tendem a temer essa etapa do desenvolvimento de seus filhos, pois estarão frente à possibilidade de relembrarem e reviverem essas próprias experiências pessoais de suas vidas. Mesmo esse filho sendo outro ser humano completamente diferente deles e com outra subjetividade.

Nasce o bebê, nascem os pais

Assim, existe uma nova configuração na vida dos recém-nascidos pais. Nasce o filho, chegam novas adaptações, novas tarefas práticas e psicológicas. É um momento de mudança que rompe o equilíbrio anterior estabelecido na relação pessoal de cada um consigo mesmo e também dos dois enquanto parceiros. E todo esse movimento é esperado e acontece para possibilitar o crescimento saudável de todos os membros da nova família.

Fontes de pesquisa e imagens
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  • Photo 3 by Rodnae Productions from Pexels
  • Abuchaim, B. D. O. (2016). Importância dos vínculos familiares na primeira infância: estudo II. São Paulo: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
  • Berger, K. S. (2003). O desenvolvimento da pessoa: do nascimento a terceira idade. LTC.
  • Bornholdt, E. A., Wagner, A., & Staudt, A. C. P. (2007). A vivência da gravidez do primeiro filho à luz da perspectiva paterna. Psicologia Clínica, 19(1), 75-92.
  • de Carvalho, J. B. L., de Brito, R. S., Araújo, A. C. P. F., & de Souza, N. L. (2009). Sentimentos vivenciados pelo pai diante do nascimento do filho. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, 10(3), 125-131.
  • Duarte¹, E. D. L., & Zordan, E. P. (2016). Nascimento do primeiro filho: transição para a parentalidade e satisfação conjugal.
  • Jager, M. E., & Bottoli, C. (2011). Paternidade: vivência do primeiro filho e mudanças familiares. Revista Psicologia-Teoria e Prática, 13(1).
Alline é graduada em Psicologia, especialista em Psicologia Clínica Hospitalar e há quase dez anos pratica a psicologia com crianças, adolescentes e adultos através da abordagem psicodinâmica.